Na infância, Wesley conheceu a pobreza. Samuel, seu pai, era pároco anglicano em uma das paróquias que pagava menos na Inglaterra e tinha nove filhos para alimentar e vestir. John via sempre o pai endividado e certa vez o viu ser preso por causa de dívidas. Quando decidiu seguir o ministério não tinha ilusões quanto às suas recompensas financeiras.
Entretanto Wesley não enfrentou a mesma pobreza de seu pai. Em vez de se tornar o pregador de uma paróquia, sentiu a orientação de Deus para dar aulas da Universidade Oxford. Foi eleito membro da Lincoln College e sua situação financeira mudou completamente.
Passou a receber no mínimo 30 libras por ano mais do que suficiente para sustentar um homem solteiro naquela época. Parece que apreciou sua relativa prosperidade enquanto dava aulas, gastando o dinheiro com jogo, cigarro e bebida.
Um fato ocorrido em Oxford alterou sua perspectiva do dinheiro. Havia acabado de comprar quadros para seu quarto quando uma das camareiras bateu à sua porta. Era inverno e ele reparou que ela só tinha um vestido fino de linho para protegê-la do frio. Enfiou a mão no bolso para dar-lhe dinheiro para comprar um casaco e descobriu que sobrara muito pouco. Entendeu, então, que Deus não estava contente com a forma como gastava seu dinheiro. Perguntou a si mesmo:
Será que teu Mestre dirá: “Bem está, servo bom e fiel?”. Adornaste tuas paredes com o dinheiro que poderia ter protegido essa pobre criatura do frio”! Ó justiça! Ó misericórdia! Esses quadros são o sangue dessa pobre empregada (trecho de Sobre roupas).
Talvez como reflexo desse acontecimento, Wesley passou a limitar seus gastos a fim de ter dinheiro para dar aos pobres. Verificou que em um ano sua renda havia sido 30 libras, seus gastos para viver, 28 libras e, então, tinha 2 libras para doar. No ano seguinte a renda dobrou, mas gastou as mesmas 28, então pôde doar 32. No terceiro ano, a renda pulou para 90 libras. De novo, viveu com 28 e doou 62. No quarto ano, ganhou 120 libras, gastou 28 e deu 92 para os pobres.
Wesley pregava que os cristãos não deviam se limitar ao dízimo, mas dar toda renda extra depois de atender as necessidades da família e pagar os credores. Ele acreditava que, com o aumento de renda, o cristão deveria elevar seu padrão de doação, não seu padrão de vida.
Mesmo quando sua renda subiu para milhares de libras, continuou a viver em simplicidade e doava todo o dinheiro que sobrava. Em determinado ano, sua renda chegou a mais de 1.400 libras. John ficou com apenas 30 e doou todo o restante. Ele temia acumular tesouros na terra, por isso tão logo recebia, enviava o dinheiro para caridade. Declarou nunca ter possuído mais do que 100 libras ao mesmo tempo.
Entre as maneiras como Wesley limitava seus gastos estavam a vida sem luxos e a identificação com os necessitados. Pregava que os cristãos deveriam se considerar membros da classe pobre a quem Deus entregou o dinheiro como ajuda. Colocava suas palavras em prática, vivendo e comendo com os pobres. Sob a liderança de Wesley, metodistas de Londres abriram na cidade duas casas para abrigar viúvas que eram sustentadas por ofertas levantadas nas reuniões e na Ceia do Senhor.
Em 1748, Wesley morava nas mesmas acomodações que qualquer outro ministro metodista que estivesse na cidade. Alegrava-se por comer da mesma comida à mesma mesa, esperando ansioso pelo banquete celestial que todos os cristãos irão compartilhar.
John Wesley não se identificava com os pobres apenas compartilhando alimento e moradia e abrindo mão de luxo, mas algumas vezes deixava de atender algumas de suas necessidades para doar o dinheiro. Durante quase quatro anos alimentou-se basicamente de batatas. Isso não foi apenas para melhorar a saúde, mas também para poupar. “O que eu economizo com carne irá alimentar alguém que não tem nada.”
Em 1744, Wesley escreveu: “[Quando eu morrer], se deixar dez libras… você e toda a humanidade [podem] testemunhar contra mim, que vivi e morri como ladrão e assaltante”. Quando morreu, em 1791, o único dinheiro citado em seu testamento foi a miscelânea de moedas encontradas em seus bolsos e gavetas. Havia doado a maior parte das 30 mil libras que ganhou em sua vida.
Os Conselhos de Wesley
Qual a orientação de Deus para os cristãos usarem seus recursos financeiros? Wesley apresentou quatro prioridades bíblicas:
I. Providencie tudo que for necessário para você e sua família (1Timóteo 5:8). O crente deve assegurar que sua família tenha satisfeitas as necessidades e confortos, ou seja, “alimento suficiente e saudável para comer e roupas limpas para vestir”, assim como um lugar para morar. Deve ainda assegurar que a família tenha como viver caso aconteça alguma coisa com a pessoa que a sustenta.
II. “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes.” (1Timóteo 6.8) Como os cristãos decidem quanto gastar com eles mesmos e com a família? Qual é o limite? Wesley respondeu citando as palavras de Paulo a Timóteo. Acrescentou que a palavra traduzida como “vestir” significa literalmente “cobrir”, o que inclui residência além de roupas. E prossegue: “Segue-se, claramente, que tudo que ultrapassar isso é, aos olhos do apóstolo, riqueza. Ou seja, tudo que vai além das necessidades básicas ou, no máximo, das conveniências. Qualquer pessoa que tiver o suficiente para comer, roupa para vestir, um lugar para deitar a cabeça e mais alguma coisa é rica” (trecho de O perigo da riqueza).
III. “Procurem fazer o que é correto aos olhos de todos.” (Romanos 12.17) e “Não devam nada a ninguém” (Romanos 13.8). Wesley disse que a forma seguinte de gastar o dinheiro é pagar aos credores; e acrescentou que os que possuem negócios próprios precisam de ferramentas, estoque ou capital adequados para fazerem o negócio prosperar.
IV. “Façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé” e “Enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos” (Gálatas 6.10). Depois que o cristão cuidou da família, dos credores e de seu negócio, a obrigação seguinte é usar todo o dinheiro que sobrar para atender as necessidades dos outros. Wesley ensinou que Deus dá dinheiro a seus filhos para que atendam suas necessidades razoáveis e espera que, depois lhe devolvam o restante, dando aos pobres. Deus quer que todos os seus filhos se considerem “apenas um dos pobres, cujas carências foram supridas por parte da substância de Deus que ele colocou nas mãos deles com essa finalidade”. Então, Deus irá perguntar: < ?xml:namespace prefix = o ns = “urn:schemas-microsoft-com:office:office” />
Foste um benfeitor da humanidade? Alimentaste os famintos, vestiste os despidos, confortaste os enfermos, ajudaste o estrangeiro, acalmaste os aflitos, segundo o que cada um necessitava? Foste olhos para o cego, pés para o aleijado, pai para os órfãos e marido para as viúvas? (trecho de O bom mordomo).
Além desses quatro princípios bíblicos, Wesley reconheceu que há situações que dão margem a dúvidas. Nem sempre é óbvio como o cristão deve usar o dinheiro de Deus. Assim, apresentou quatro perguntas que as pessoas devem fazer antes de decidir como usar o dinheiro:
Ao gastar este dinheiro, estou agindo como se ele fosse meu ou como um mordomo do Senhor?
O que a Bíblia exige de mim para gastar esse dinheiro dessa forma?
Posso oferecer essa minha compra ao Senhor como sacrifício?
Deus me recompensará por esse gasto na ressurreição dos justos?
Wesley advertia especialmente contra comprar muitas coisas para as crianças. Pessoas que jamais desperdiçariam dinheiro com elas mesmas às vezes eram mais indulgentes com os filhos. Com base no princípio de que atender um desejo desnecessário serve apenas para fazer com que ele cresça, Wesley inquiriu esses pais bem intencionados:
Por que vocês compram para eles mais orgulho, luxúria, vaidade, tolice e desejos prejudiciais? […] Por que gastam mais para aumentar as tentações e armadilhas deles e marcá-los com mais tristezas?” (trecho de O uso do dinheiro).
Finalmente, Wesley sugeriu a seguinte oração para o crente que ainda está em dúvida:
Senhor, tu vês que vou gastar essa quantia em alimento, objetos ou móveis. E sabes que vivo com um único objetivo: ser mordomo de teus bens; e gasto essa porção buscando realizar o projeto que tinhas ao me confiar o dinheiro. Sabes que faço isso em obediência à tua Palavra, como mandaste, e porque ordenaste. Rogo-te que o que vou adquirir seja sacrifício santo, aceitável por meio de Jesus Cristo! E dá-me um testemunho em mim mesmo de que, por esse esforço de amor, serei recompensado quando recompensares todas as pessoas de acordo com as obras que praticarem (trecho de O uso do dinheiro).
Wesley tinha certeza de que qualquer crente que tivesse a consciência limpa depois de fazer essa oração usaria o dinheiro com sabedoria.
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