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Papa convoca jovens a propagar evangelho pela Internet
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O papa Bento XVI conclamou hoje os jovens católicos a usarem a rede mundial de computadores para propagar as mensagens da Igreja. O pontífice promoveu o uso da internet como meio de difusão do evangelho em um pronunciamento a cerca de 20 mil peregrinos durante audiência pública semanal no Vaticano. Bento XVI observou que a internet promoveu mudanças na forma como são distribuídas as notícias, assim como no estabelecimento dos contatos entre as pessoas.
Ele pediu aos jovens que aproveitem o potencial da rede para construir um mundo melhor mediante laços de amizade e solidariedade. O Vaticano tem atualizado constantemente sua presença na internet. Este ano, o papa inaugurou seu próprio canal no YouTube.
Ps. E os nossos lideres evangélicos?
Fonte: AE.
A mulher no islamismo
A lista de horrores já soa, a esta altura, familiar. Meninas proibidas de ir à escola e condenadas ao analfabetismo. Mulheres impedidas de trabalhar e de andar pelas ruas sozinhas. Milhares de viúvas que, sem poder ganhar seu sustento, dependem de esmolas ou simplesmente passam fome. Mulheres com os dedos decepados por pintar as unhas. Casadas, solteiras, velhas ou moças que sejam suspeitas de transgressões – e tudo o que compõe a vida normal é visto como transgressão – são espancadas ou executadas. E por toda parte aquelas imagens que já se tornaram um símbolo: grupos de figuras idênticas, sem forma e sem rosto, cobertas da cabeça aos pés nas suas túnicas – as burqas. Quando o Afeganistão entrou no noticiário por aninhar os terroristas que bombardearam o World Trade Center e o Pentágono, essas cenas de mulheres tratadas como animais voltaram a espantar o Ocidente. Elas vivem em regime de submissão absoluta há muito tempo, mas a situação ficou ainda pior desde que a milícia Talibã tomou o poder no país, em 1996.
O cenário de Idade Média não é uma prerrogativa afegã. Trata-se de uma avenida permanentemente aberta aos regimes islâmicos que desejem interpretar os ensinamentos do Corão a ferro e fogo. A isso se dá o nome de fundamentalismo. Há países de islamismo mais flexível, como o Egito, e outros de um rigor extremo, como a Arábia Saudita e, principalmente, o Afeganistão. Para o pensamento ortodoxo muçulmano, a mulher vale menos do que o homem, explica Leila Ahmed, especialista em estudos da mulher e do Oriente Próximo da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos. “Um ‘infiel’ pode se converter e se livrar da inferioridade que o separa dos ‘fiéis’. Já a inferioridade da mulher é imutável”, escreveu Leila num ensaio sobre o tema, em 1992.
Por trás dessa situação há uma ironia trágica. A exclusão feminina não está presente nas fundações do islamismo, mas apenas no edifício que se erigiu sobre elas. O Corão,livro sagrado dos muçulmanos, contém versículos dedicados a deixar claro que, aos olhos de Alá, homens e mulheres são iguais. O mais importante deles é o que está reproduzido nesta página. Ele mostra que Deus espera a mesma fidelidade de ambos os sexos, e que a premiará de forma idêntica. Segundo o dogma islâmico, o Corão é o conjunto de revelações que o profeta Maomé recebeu diretamente de Deus, no século VII. É o mandamento divino, e não uma interpretação qualquer de Sua vontade. Como se explica, então, que idéias tão avançadas tenham se perdido, para dar lugar a Estados religiosos em que as mulheres têm de viver trancafiadas e cobertas por véus, em pleno século XXI? As respostas têm de ser buscadas muito longe, no próprio nascimento do Islã.
Quando tinha 25 anos, Maomé se casou com Khadidja, uma viúva rica que o empregara para supervisionar sua caravana de comércio entre a cidade de Meca, na atual Arábia Saudita, e a Síria. A própria Khadidja, de 40 anos, propôs as núpcias, num arranjo que não era assim tão incomum. Naquela época, a Arábia era uma das poucas regiões do Oriente Médio em que o casamento comandado pelo marido ainda convivia com outros tipos de união. Acredita-se que havia até mulheres que tinham vários maridos – e muitas viviam com considerável autonomia pessoal e financeira. Era o caso de Khadidja, uma negociante experiente. Alguns anos depois de seu casamento, Maomé começou a receber o que seriam revelações de Deus. Julgando-se louco, procurou o conselho da esposa. Ela dispersou suas dúvidas e, para provar sua confiança no marido, converteu-se à nova religião. O primeiro muçulmano foi, assim, uma mulher. Quando Khadidja morreu, Maomé entrou em vários casamentos simultâneos. A mais célebre de suas esposas é Aisha, que tinha 9 anos na ocasião das bodas. Segundo alguns relatos, ela brincava no quintal quando foi chamada para dentro de casa. Lá, encontrou o noivo e foi posta sobre seus joelhos. Os pais da menina se retiraram, e o casamento teria se consumado ali, na casa paterna.
Aisha é uma figura central nesses primeiros anos do Islã (cujo calendário começa a ser contado no ano 622 da era cristã). Inteligente, articulada e dona de uma memória prodigiosa, ela foi a mais querida e respeitada das mulheres do profeta – embora todas partilhassem de seus ensinamentos e apoiassem ativamente sua causa. Eram, aliás, tão assediadas por pessoas em busca de favores e influência que talvez por isso tenham sido as primeiras muçulmanas (e, por algum tempo, as únicas) a usar véu e ficar recolhidas em casa – e, ainda assim, só nos últimos anos da vida de Maomé. Aisha tinha 18 anos quando Maomé morreu. Nas quase cinco décadas seguintes de sua vida, ela foi inúmeras vezes consultada em pontos importantes da religião, da política e também da conduta do profeta. Isso porque Maomé legou aos muçulmanos o Corão, que é quase um tratado ético, mas não teve tempo de regulamentar todos os princípios que deveriam reger o cotidiano dos convertidos. Quando vivo, podia ser consultado a qualquer momento. Depois de sua morte, tornou-se tarefa de seus seguidores próximos transferir da memória para a escrita as palavras e ações do profeta. A intenção era que o conjunto servisse de guia aos fiéis. Esses “ditados” são os Hadith. Juntos, eles compõem a tradição maior, a Sunna. Com as complicações surgidas por causa da sucessão de Maomé, os Hadith tornaram-se uma ferramenta crucial. Não era difícil que alguém sacasse um deles para resolver um impasse. E, é claro, não demorou para que muitos fossem forjados. Cerca de 200 anos depois da morte do profeta, um respeitado historiador do islamismo, al-Bukhari, contou 7 275 Hadith genuínos, contra quase 600.000 inventados. Mesmo os tidos como verdadeiros merecem algum escrutínio, argumentam estudiosos como a marroquina Fatima Mernissi.
Fatima investigou a origem dos Hadith que são as pedras angulares para justificar a inferioridade feminina no Islã. Um deles é o que compara as mulheres aos cães e jumentos na sua capacidade de perturbar a oração. Fatima concluiu que o narrador desse Hadith, Abu Hurayra, era um homem com sérios problemas de identidade sexual e um feroz opositor de Aisha, que amiúde o repreendia em público por sua mania de inventar Hadith. Nessa ocasião, ela corrigiu Hurayra, dizendo que o profeta costumava rezar perto de suas mulheres sem nenhum medo de que elas o atrapalhassem. Mas sua versão não passou à história. Outro Hadith que todo muçulmano sabe de cor é o que diz que “aqueles que confiam seus negócios a uma mulher nunca conhecerão a prosperidade”. Segundo Fatima Mernissi, o surgimento desseHadith é ainda mais misterioso. Abu Bakra, seu narrador, lembrou dessa frase do profeta (e pela primeira vez) mais de vinte anos depois de supostamente ela ter sido dita. Curiosamente, veio-lhe à memória (assim ele afirmou) no momento em que Aisha sofreu sua grande derrocada. A viúva do profeta virou o centro de uma crise quando, ao suspeitar de um golpe, pegou em armas para intervir numa das etapas da sucessão de Maomé. Na batalha que se seguiu, perdeu 13.000 de seus soldados e saiu derrotada, em vários sentidos. Foi, primeiro, criticada por ter se exposto de uma maneira inconveniente a uma mulher. E, com a perda de prestígio, teve muitos de seus comentários e correções sobre importantes Hadith suprimidos ou ignorados – como no caso daquele que fala dos cães e jumentos. Esses são só alguns exemplos de como a voz feminina, tão valorizada nos primórdios do Islã, começou a se silenciar.
A pesquisadora Leila Ahmed tem mais explicações para a opressão das mulheres no Islã. Os muçulmanos, diz ela, costumavam manter os hábitos das regiões onde se firmavam, desde que esses estivessem em sintonia com seu pensamento. O restante era descartado. Na Arábia, por exemplo, eliminaram as outras formas de casamento para que prevalecesse apenas o patriarcal. Quando conquistaram a região que hoje abarca o Irã e o Iraque, assimilaram a prática de formar haréns, o uso disseminado do véu para as mulheres e, principalmente, os mecanismos de repressão feminina que eram uma característica marcante dos povos locais. Foi nesse ambiente altamente misógino que, nos séculos seguintes, o direito islâmico foi elaborado. Separado em escolas que diferem em vários pontos, mas se apresentam como sendo timbres diversos de uma só voz, esse direito é dado como absoluto e imutável. Seus princípios não podem ser questionados nem relativizados à luz de traços culturais. Por isso são, até hoje, um instrumento útil para calar as mulheres em países nos quais vigora o regime teocrático. Um dado complicador é que as muçulmanas têm até hoje um conhecimento muito vago da lei divina. Aderem ao fundamentalismo atraídas pelos ideais de pureza da religião e, quando ele é instaurado, são surpreendidas por seus rigores – a exemplo do que ocorreu no Irã dos aiatolás.
Não é pequena a importância de estudos históricos como os de Leila Ahmed e Fatima Mernissi. Eles ajudam a demonstrar que a liberdade feminina não equivale à ocidentalização e à aculturação – ou, em outras palavras, à traição do Islã. Pelo contrário: é possível ser, ao mesmo tempo, uma muçulmana livre e uma muçulmana fiel. Se a democracia chegou para as mulheres que vivem sob a égide da civilização judaico-cristã, que também não é lá muito célebre por sua visão feminista do mundo, não há por que ela não possa ser almejada pelas muçulmanas que se orgulham de sua religião. Em tempo: um dia, um seguidor de Maomé lhe indagou qual a pessoa que ele mais amava no mundo. “Aisha, minha mulher”, respondeu o profeta. Irritado com uma resposta assim, no feminino, o curioso insistiu: “E qual o homem que o senhor mais ama?”. Maomé não hesitou. “Abu Bakr. Porque ele é o pai de Aisha.”
A igualdade no Corão “Os submissos e as submissas, os crentes e as crentes, os homens obedientes e as mulheres obedientes, os homens leais e as mulheres leais, os homens perseverantes e as mulheres perseverantes, os homens humildes e as mulheres humildes, os homens caridosos e as mulheres caridosas, os homens que jejuam e as mulheres que jejuam, os homens castos e as mulheres castas, os homens que invocam a Deus com freqüência e as mulheres que invocam a Deus com freqüência – para todos eles, Deus preparou a indulgência e grandes recompensas.” (Sura 33:35) |
DEVERES E PUNIÇÕES Como a lei limitou a vida das muçulmanas no Irã, país quase “liberal” perto do Afeganistão dominado pelo Talibã
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Pastor vende igreja por não conseguir pagar contas de luz
Casal diz que encontrou imagem de Jesus em salgadinho
Martin Luther King terá biografia produzida por Spielberg
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Cineasta vinha há anos tentando conseguir os direitos para levar a vida do líder civil aos cinemas.
O pastor protestante e ativista civil Martin Luther King Jr. ganhará cinebiografia com produção da DreamWorks, de Steven Spielberg, informou o site da revista Variety.
Por anos, o cineasta norte-americano vinha tentando conseguir autorização para filmar a obra. A demora se deve porque o líder civil registrou os direitos autorais de seus discursos, livros e obras. A produção é a primeira autorizada pelos herdeiros de King – o que dará à equipe de Spielberg o direito de usar toda a propriedade intelectual do cinebiografado, inclusive o famoso discurso "Eu tive um sonho", proferido em ato no Lincoln Memorial, Washington D.C., em 28 de agosto de 1963. O pastor foi assassinado cinco anos depois, aos 39 anos, em Memphis.
"Estamos todos honrados da oportunidade nos dada pelos herdeiros de King para contar a história destes eventos definitivos, históricos", disse Spielberg. "É nossa esperança de que o poder criativo do cinema e o impacto da vida do dr. King possam ser combinados para apresentar uma história de poder inegável, da qual possamos nos orgulhar."
Dexter Scott King, filho de Martin, é CEO do patrimônio de seu pai e estava engajado em uma luta judicial contra seus irmãos Bernice King e Martin Luther King III. O alvo da dispura era a papelada da mãe, Coretta Scott King, mulher do líder civil e morta em 2006 – grande parte do material que será usado pela produtora de Spielberg vem justamente daí.
King foi a pessoa mais nova a receber o prêmio Nobel – no caso, o da Paz, em 1964, por conta de seu trabalho para dar um ponto final à segregação racial nos EUA.
Stacey Snider, sócio de Spielberg na DreamWorks, explicou por que o momento é propício a uma cinebio do ativista. "Ao tentar emplacar um projeto tão ambicioso, a questão que devemos nos fazer é: ‘Por que agora?’. A resposta está nas próprias palavras de Martin Luther King: ‘Todo progresso é precário’. (…) Nunca devemos esquecer que sua vida e seus ensinamentos continuarão a nos desafiar todo dia a se levantar contra o ódio e a desigualdade."
Por ora, nenhum diretor ou elenco foram associados à produção, que também não tem previsão para começar as filmagens.
Fonte: Rolling Sotne.
Câmara paga passagens para artistas gospel
Juiz nega a casal homossexual direito de registrar bebês com duas mães
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A Justiça de São Paulo negou na sexta-feira (8) o pedido de tutela antecipada que daria a um casal de mulheres homossexuais de Carapicuíba o direito de registrar os dois filhos delas, nascidos em 29 de abril, com duas mães cada.
Os bebês _uma menina de 2,750 kg e um garoto de 2,415 kg_ são filhos de Adriana Tito Maciel. A mãe, homossexual, recebeu os óvulos de sua companheira, Munira Kalil El Ourra, que se submeteu a inseminação artificial. O nome do pai não foi revelado.
Como negou a liminar, o juiz da 6ª Vara da Família do Fórum de Santo Amaro adiou a decisão sobre o registro dos gêmeos para o momento em que julgar definitivamente a ação declaratória de filiação impetrada há um mês pelas mães.
Adriana disse por telefone nesta segunda-feira que ainda não decidiu o que fazer. As crianças estão sem registro desde 29 de abril.
Ela pretende discutir o assunto nesta semana com sua advogada, a especialista em direito homoafetivo Maria Berenice Dias.
“Ainda não sabemos o que fazer. Ainda não conversamos com a advogada. Vamos fazer o que ela determinar”, afirmou.
Adriana recebeu a notícia no sábado e reagiu com naturalidade. “Eu gostaria que o juiz tivesse sido favorável. Infelizmente a gente não pode fazer nada neste sentido. Vamos ver que decisão as advogadas vão nos indicar”, afirmou.
A advogada do casal em São Paulo, Viviane Girardi, conversou com o juiz há uma semana, quando apresentou o pedido de tutela antecipada. Ela disse que a decisão do juiz era mais ou menos esperada.
“A tutela antecipada é muito difícil em processos deste tipo. O juiz quer colher elementos para se convencer dessa decisão”, afirmou. A advogada defende que as crianças sejam registradas com o nome de uma das mães até que a Justiça se manifeste definitivamente.
Maria Berenice Dias também entende que o processo com essas peculiaridades _gestação comungada entre parceiras sexuais_ é inédito e de difícil decisão. A advogada esperava inicialmente que a decisão judicial chegasse antes do parto, mas considerou a demora natural, diante da complexidade do processo. Após o nascimento, havia expectativa de que a Justiça atendesse o pedido de tutela antecipada, negado pelo juiz.
Maria Berenice considera prioritário que as crianças tenham dupla maternidade, uma vez que foram geradas por decisão do casal, em comum acordo. Se um dia houver rompimento na relação entre as duas mães, as crianças podem ficar desprotegidas. “Se não colocarmos as crianças em nome das duas, elas, as crianças, poderão ficar vulneráveis no futuro”, afirmou.
De acordo com a advogada, a Justiça tende a dar o registro para a mulher cujos óvulos foram fecundados. “Se elas não fossem mães homossexuais, tenho certeza de que o registro das crianças iria para o nome de Munira”, afirma. A advogada quer que o nome das duas conste na certidão de nascimento sem especificação de quem é a mãe biológica. “No registro deve ficar filho de Adriana Tito Maciel e Munira Kalil El Ourra”, afirmou a defensora.
Fonte: G1.
Cerca de 40 milhões de brasileiros estão afastadas da igreja
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![]() Por que há tantos afastados de Deus? Faz quatro anos que os domingos do eletricista aposentado José Boaventura Boas, 56 anos, não são mais os mesmos. No primeiro dia da semana, ele gosta de ficar no bar com os amigos, jogar dominó, discutir os resultados da rodada, observar as mulheres, beber e freqüentar bailes. Até pouco tempo, ele vivia uma outra realidade. Tinha uma rotina tão agitada que mal conseguia parar para almoçar no dia em que normalmente as famílias se reúnem. Durante os 25 anos que liderou, implantou e pastoreou igrejas de três denominações da Assembléia de Deus, os domingos de Boaventura começavam cedo com as aulas da escola dominical. Na seqüência, visitava casas de irmãos, doentes nos hospitais e ainda liderava evangelismos nas ruas de Praia Grande (SP). À tarde, quando conseguia um tempo livre, ele usava para preparar a mensagem que ministraria no culto da noite. “O envolvimento com a obra de Deus era um marco em minha vida.” Entretanto, por causa de desavenças, uma história iniciada em 1º de dezembro de 1979 foi interrompida. Intrigas, mentiras, calúnias e acusações, jamais comprovadas, mas proferidas por seus líderes, o fizeram tomar uma decisão radical: abandonar a casa de Deus. Boaventura integra uma categoria de crentes que não pára de crescer: os desviados. Estima-se que, atualmente, existam entre 30 e 40 milhões em todo o país. Comparando-se com os dados do último censo populacional, que revelou a existência de cerca de 27,2 milhões de evangélicos, a quantidade de “ovelhas perdidas” é maior do que a igreja oficial. Se esses ex-irmãos que foram evangelizados, discipulados e participaram de cultos permanecessem, a igreja brasileira seria de aproximadamente 70 milhões de crentes, ou seja, quase a metade da população, que é de 180 milhões. Antes de ser vista como uma “ameaça”, a existência desse enorme contingente deve ser compreendida por líderes de todo o Brasil – como um sinal de alerta de que algo não vai bem. Além disso, a realidade mostra que é preciso rever conceitos e práticas para que esse jogo possa ser revertido. Pastor Sinfrônio Jardim Neto, presidente do Ministério Jesus Não Desistiu de Você, que há 14 anos atua na recuperação de afastados, acredita que a idéia dominante em muitas congregações, que prioriza templos lotados sem se importar com os que saem, é um dos ingredientes que colaboram para o problema acontecer. “Infelizmente, 90% das igrejas não estão preocupadas com aqueles que saíram. Porém, sabemos que buscar a ovelha perdida é uma visão que está no coração de Deus.” Referência no assunto, com livros publicados e vários seminários e palestras ministrados no Brasil e exterior, ele explica que a reconquista é uma visão que a igreja perdeu ao longo dos anos, mas que atualmente se faz necessária para que os que saíram retornem. “Se a igreja não for atrás dos desviados, a maioria permanecerá no pecado e morrerá sem Deus. Para ser motivada nessa reconquista, a igreja precisa enxergar os soldados feridos com os olhos de compaixão do Senhor Jesus.” Este, porém, não é um problema exclusivamente brasileiro. Basta lembrar que um dos motivos do enfraquecimento do Evangelho em muitas nações se deu basicamente porque as pessoas deixaram de ir à igreja e passaram a se ocupar com outras coisas. A grande diferença é que, no Brasil, ao mesmo tempo em que saem muitos, outro tanto acaba entrando, o que no final gera um equilíbrio. Para descobrir os motivos da evasão, a Life Way Research (www.lifeway.com) realizou um estudo nos Estados Unidos e percebeu que vários fatores influenciam-na. Segundo o levantamento, 59% das pessoas decidiram abandonar a casa de Deus por causa da mudança de situação de vida (transferência de cidade, divórcio, nascimento de filhos, morte na família etc.). O desencantamento com os membros e pastores foi apontado por 37% dos entrevistados. A pesquisa também revelou que 19% estavam ocupados demais para participar das atividades da igreja; já 17% disseram que as responsabilidades da casa e família contribuíram para o afastamento. O comportamento dos próprios membros representou 17% dos ouvidos. E outros 12% revelaram dificuldades de envolvimento como maior empecilho. Foi justamente para descobrir as causas que levam as ovelhas a se perderem que em outubro do ano passado a Faculdade Teológica Sul-Americana (FTSA), em Londrina (PR), promoveu sua V Semana de Estudos com o título “Decepcionados com a Igreja”. O evento, que contou com a participação de acadêmicos, integrantes da comunidade e a presença do pastor Caio Fábio, tentou encontrar respostas plausíveis para questões como: Por que as pessoas se decepcionam com suas igrejas? Quais são os motivos de suas frustrações e desilusões? Que principais motivos levam as pessoas a abandoná-las? “Um pastorado que não busca refletir e entender os motivos que as pessoas possuem para sair da igreja é um pastorado sem a perspectiva do cuidado. Cuidar é se importar”, alerta Jorge Henrique Barro, professor de Teologia Prática da FTSA. “O que deve nos motivar a refletir sobre este assunto é o exemplo de Jesus, que pergunta: ‘Qual de vocês que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma, não deixa as noventa e nove no campo e vai atrás da ovelha perdida, até encontrá-la? E quando a encontra, coloca-a alegremente nos ombros e vai para casa. Ao chegar, reúne seus amigos e vizinhos e diz: Alegrem-se comigo, pois encontrei minha ovelha perdida’”, frisa, citando Lucas 15.4-6.
LONGE DE CASA Brigas internas, legalismos, decepções com a liderança, sensação de abandono, falsas profecias e promessas de prosperidade não concretizadas são os principais motivos, de uma lista imensa, que levam, cada vez mais, à não-permanência na igreja. Entretanto, é preciso deixar claro que nem todos os afastamentos são motivados por problemas eclesiásticos. Em muitos casos, eles acontecem devido a questões pessoais. O morador de rua Fábio Paixão França, 37 anos, tem consciência de que seus próprios erros o afastaram do convívio da igreja. Com passagem em três congregações (Cristo é a Vitória, Bola de Neve e Cristo é a Resposta) e uma casa evangélica de recuperação de dependentes químicos, ele roga por uma nova chance: “Eu peço que Deus derrame mais uma gota de seu sangue para que possa ter vergonha e voltar a servi-lo da maneira correta”. Longe da igreja, os desviados acabam adquirindo características e práticas parecidas. Normalmente, tornam-se arrogantes, frios e indiferentes. Embora estejam vivendo no pecado, ao mesmo tempo, alguns nutrem uma “fagulha de Deus acesa no coração”. O contato com pessoas que vivem longe do Senhor fizeram com que Jardim Neto descobrisse que alguns afastados sentem saudade de Cristo, temem o inferno, possuem a convicção do pecado e até desejam retornar. “Muitos, por acharem que estão livres de Deus, fazem coisas horríveis. Mas ainda existem aqueles que conservam parte do temor de Deus e se esforçam para não se entregarem completamente ao pecado.” Na internet é possível encontrar páginas, comunidades e salas de discussões que reúnem afastados de várias idades e regiões do planeta. Nesses pontos de encontros virtuais, os membros conversam sobre vários assuntos, mas que geralmente estão relacionados à decisão que tomaram. Muitas vezes, utilizando-se do recurso do anonimato, integrantes abrem o coração e mostram-se arrependidos, como se vê neste depoimento postado na comunidade Desviados que Ainda Amam a Jesus, uma das maiores sobre o tema no Orkut: “Pra mim, foi o fim. Fiquei sem chão, mas depois percebi que teria de procurar um modo secundário de felicidade que nem se comparava à plenitude que eu havia provado ao lado de Cristo”. Criada na Congregação Cristã do Brasil em Itapira (SP), Karina Felix, 20 anos, também integra uma dessas comunidades virtuais. Há cinco anos, decidiu que sairia da igreja quando descobriu o valor de “usar brinco e vestir calça jeans”. Algo que as rígidas normas da igreja não admitem. Depois de experimentar muitas coisas, namorar, curtir baladas, ela garante que adquiriu uma nova percepção do cristianismo e descobriu que pode alimentar sua fé mesmo fora da doutrina. “Deus está em todos os lugares e cuida de todos os seus filhos. Ele nunca me deixou e eu nunca perdi a fé nEle. Igreja é feita de tijolo e cimento, coisas materiais”, declara. Embora sinta falta de cantar os hinos junto com a orquestra, ela acredita que se sentiria envergonhada se voltasse como se nada tivesse acontecido. “Acredito que eu não volto mais, não tenho forças. Se a volta estiver nos planos de Deus, Ele vai dar um jeitinho, o que é dEle ninguém leva.” Fonte: Revista Enfoque |