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A loucura, às vezes, é essencial para que o ser humano produza, cresça, realize feitos que de outra forma ele não poderia, pois o bom senso e razão não lhe deixariam correr riscos, ousar. Há um tipo de loucura que tem sido o responsável por grandes conquistas e realizações ao longo da história da humanidade. Não qualquer loucura, mas a loucura inteligente, a loucura acima descrita na citação de Gelb.
Todo empreendedor, todo sonhador além da compreensão de seus pares, em determinado momento é considerado louco. Alguns são loucos em todos os momentos. Foi assim com todos os grandes inventores, pensadores e transformadores da história humana, principalmente quando envolvia ameaça ao status dominante em determinado setor ou atividade da vida em comunidade.
Muitos daqueles a quem hoje nós reputamos como gênios, rendendo-lhes tributos e honrando-lhes a memória, foram loucos varridos em seu tempo. Ou melhor, tidos como loucos e execrados pelo poder reinante de então, seja em termos de conhecimento, política, educação, economia ou “verdades” e “absolutos” científicos. Será que não é assim até hoje?
Nesses termos, são os loucos quem muito contribuem para o avanço e crescimento da humanidade. Por outro lado, são eles quem destroem o planeta, pondo em risco toda a existência humana. São eles também que provocam a reação dos não loucos, na maioria das vezes fazendo-os enlouquecer também, ainda que por outro lado.
Em todo caso, ruim mesmo é ser somente louco, nem gênio nem excêntrico. Ruim é ser um louco corriqueiro, vulgar, que não chama a atenção de ninguém e que não contribui para nada significativo. Até para ser louco é preciso ser portador de uma loucura decente, que valha à pena. Louco por louco muitos são, mas é preciso saber para que serve essa loucura.
E parece que é no meio do oceano profundo, como diz Gelb, que as verdadeiras loucuras se expressam, tanto para um lado como para outro. É aí que saber nadar faz toda a diferença. Mas nadar para onde, e nadar por quê? É possível que a loucura os faça nada para uma margem, uma praia inexistente. E se ele não parar de nadar, ficará nadando indefinidamente no mar da vida, de um para outro lado, cortando as ondas, mas sem porto e sem destino certo. Esse é um tipo de loucura que acontece muito freqüentemente.
Outros loucos somente se afogam, e esses não merecem comentário. Mas, dentre os que nadam, há categorias diferentes. Além dos acima mencionados, há os que nadam para alvos “loucamente” definidos, para luzes de portos e faróis distantes, mas nadam. Há os que nadam juntos, agarrados uns aos outros. Há os que nadam, nadam, e morrem na beira. Há os que nadam e depois decidem se exibir, fazendo acrobacias aquáticas, extravagâncias, e aí, de exaustos, afundam. Há os que tentam nadar afundando e neutralizando outros, e às vezes são eles puxados para o fundo; descem juntos.
Estar na água, contudo, é um aspecto nobre da loucura, pois mostra a coragem de correr riscos, de lutar, de ousar. É desse oceano de loucos que saem as maiores e as piores realizações da sociedade humana.
Pior mesmo, sem dúvida, sãos aqueles “não loucos” que ficam sentados tranqüilamente e em segurança na praia, enxutos, protegidos do frio da água e dos perigos do mar. A maioria, infelizmente. São esses que nada realizam, nada perdem, nada ganham, somente atrapalham os loucos que querem produzir, ao mesmo tempo que dão sustentação para os loucos varridos que controlam o mundo.
O conselho de Gelb é importante, tão louco como toda esta história, mas muito oportuno: “vá em frente, molhe os seus pés!”. É molhando os pés que a coragem vem, o gosto pelo mar aparece, o desejo de nadar ou aprender a nadar cresce, e os sentados confortáveis enlouquecem de vez. Nesse sentido, enlouquecer é preciso, e que a loucura nos faça melhores e mais humanos, mais produtivos.
O apóstolo Paulo fala de uma loucura boa, a loucura da pregação. É por ela que Deus salva os que crêem (I Coríntios 1.21). Ele diz também que a sabedoria desse mundo para Deus é loucura (I Coríntios 3.19).
Jesus foi mal visto, reputado como louco no seu tempo. Achavam-no pretensioso, amigo de pecadores (e de pescadores), beberrão, comilão, usado por Belzebu para realizar milagres. Mas Ele não se deixou parar pelas mentes “sãs” e os comportamentos tidos como sábios na Sua época. Fosse em termos religiosos, sociais, econômicos, políticos, Jesus foi de encontro ao sistema estabelecido. E molhou Seus pés. Sim, como molhou. Pregando, curando, denunciando, transformando tudo a Sua volta. E até andou sobre as águas.
“Vá em frente, molhe os seus pés!” Ande sobre as águas, se preciso, mas faça alguma coisa que perdure, que justifique a sua loucura: por Jesus, para Jesus e como Jesus.