Uma pesquisa realizada por alunos de biomedicina da Faculdade Maurício de Nassau, em Recife,
revelou que 48,7% das pessoas acreditam mais na fé em Deus para alcançar a saúde contra 6,7% que creem mais nos médicos. Em entrevista, médica diz que não acredita em milagres.
Você acredita mais na fé em Deus ou na medicina para a cura de uma doença grave? A pergunta foi feita a 818 recifenses e a resposta da maioria deles surpreendeu os autores da pesquisa Saúde, Vida e Valores, realizada por alunos de biomedicina da Faculdade Maurício de Nassau. O estudo revelou que 48,7% das pessoas acreditam mais na fé em Deus para alcançar a saúde contra 6,7% que creem mais nos médicos. Outros 44,4% citaram que confiam na fé em Deus e na medicina ao mesmo tempo para se curarem. O levantamento traz também a opinião do recifense sobre outros temas polêmicos, como transplante de órgãos e tecidos, doação de sangue, eutanásia e pesquisas com células-tronco.
A explicação para tanta fé pode estar no início da própria humanidade. Isso porque, desde tempos remotos o homem sempre teve natureza religiosa, buscando se relacionar com o que não podia explicar, ou seja, com as divindades. “As pessoas têm necessidade de transcenderem a existência. Hoje nos deparamos, por exemplo, com o Crescimento do número de evangélicos no país, considerado um dos mais religiosos do mundo. A vertente neopentecostal, inclusive, onde se insere a Universal do Reino de Deus, baseia-se na tríade cura, exorcismo e prosperidade”, ressalta Karla Patriota, doutora e pesquisadora na área de religião pela Universidade Federal de Pernambuco. Ela lembra as sessões de cura levadas à frente por pastores neopentecostais dentro dos templos.
Na opinião da coordenadora do curso de biomedicina e da pesquisa, Edilene Dellalibera, a resposta da maioria pode soar preocupante se vista sob outro ponto de vista. “Será que a pessoa que só tem a opção de um transplante de órgão para sobreviver, por exemplo, tem pouca fé em Deus ou está recebendo um castigo?”, questiona. A coordenadora defende que a ideia deveria ser outra. “Pela fé, as doações de órgãos deveriam ser feitas para garantir a sobrevivência do semelhante por mais tempo. Isso também é fé, acreditar que a vida continua”, destaca.
Doação – Outro questionamento feito aos entrevistados foi sobre a doação de sangue. Nesse caso, a maioria (95%) disse ser a favor do ato. No entanto, quando perguntados se já haviam doado sangue, 59,5% disseram não, em uma clara contradição. Na opinião da coordenadora da pesquisa, Edilene Dellalibera, já que as pessoas se dizem dispostas, o que falta é incentivo à doação. “Por que as instituições públicas estão sempre precisando de doadores? O que motiva as pessoas a doarem sangue?”, questiona. O mesmo tipo de resposta surge no quesito doação de órgãos e tecidos, quando 84% dos entrevistados se dizem favoráveis a esse ato, mas 54% não querem doar. “Será que eles pensam: sou a favor, mas o outro que doe?”, completou.
O levantamento aponta também o que o recifense pensa sobre pesquisas com células-tronco: a maioria (51,8%) é favorável, mas 19,3% aprovam apenas com células embrionárias. Nesse caso, os 20,4% que optaram por não responder podem representar até mesmo a falta de conhecimento sobre o assunto, na opinião dos autores do estudo. Quanto à eutanásia, a maioria (41,7%) ainda diz ser contra o ato.
A pesquisa foi coletada nos últimos dias 4 e 5 de maio e tem um nível estimado de 95% de confiança. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais para mais ou para menos. A maioria entrevistada tem grau de instrução médio completo, recebe de um a dois salários mínimos (R$ 465 a R$ 930) e pertence à classe C.
Uma cura pelas bênçãos-de-Deus
A dona de casa Edite de Andrade Lima, 65 anos, ainda chora quando lembra do diagnóstico médico que teria recebido há oito anos. Contou que na época sentiu-se condenada à morte pelo anúncio do câncer no intestino e por isso tentou o suicídio por duas vezes. Ex-frequentadora de uma igreja evangélica, Edite preferiu entregar-se à doença e à depressão, do que iniciar um tratamento contra algo que acreditava ser incurável. “Naquele ano, até a mulher do rei Roberto Carlos tinha morrido desse mal e como então eu iria sobreviver?”, pensou.
Cólicas fortes e sangramentos eram alguns dos sintomas que mais incomodavam a dona de casa. “Um dia, decidi ir para a oração que sempre acontecia na Igreja Batista Missionária. Lá, comecei a sentir fortes dores na barriga e fui desfalecendo. Era como se estivessem arrancando algo de dentro de mim. Fechei os olhos e vi uma claridade forte. Quando abri, vi uma luz amarela que não saiu mais do meu coração”, lembrou. Segundo Edite, a melhora aconteceu no dia seguinte e 15 dias depois afilha teria confirmado a cura através da constatação de um pastor durante uma oração.
Pouco mais de um mês do primeiro diagnóstico, Edite voltou para um outro médico. Lá teria ficado sabendo que tinha apenas uma gastrite. “O médico viu somente uma cicatriz no meu intestino”, contou. A dona de casa acredita que foi um milagre. Em nenhum momento pensou em um possível diagnóstico errado. “Deus é o médico dos médicos. Se tenho um médico como esse, vou temer o quê? Ele também já salvou meu marido da morte duas vezes, quando não deixou que fosse para a mesa de cirurgia para operar o coração”, disse, confiante.
Fonte: Zoenet.