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Filme tem Reynaldo Gianecchini e Alinne Moraes, entre outros atores.
Longa entra em cartaz nesta sexta; dinheiro será investido em casa.
“Essas crianças não são estatísticas, são meus filhos.” Foi com essa frase que Flordelis, protagonista do filme que leva seu nome, arrancou aplausos da plateia do Cine Odeon, na noite desta terça-feira (6), em exibição que fez parte da programação do Festival do Rio. O filme entra em cartaz na próxima sexta.
“Flordelis – Basta uma palavra para mudar” conta a história real de uma mulher, moradora da favela do Jacarezinho, no Rio, que adotou 37 crianças e as criou junto de seus quatro filhos biológicos. Mas além da óbvia complexidade em se ter 41 filhos dentro de casa, Flordelis enfrentou outras adversidades em sua jornada, retratadas no filme e narradas por ela mesma.
Seu trabalho começou com o projeto batizado de “Evangelismo da madrugada”, que consistia basicamente em sair de casa toda sexta-feira à meia-noite, perambulando de favela em favela do Rio de Janeiro, tentando resgatar jovens envolvidos no tráfico de drogas. Flordelis ficou famosa por seu trabalho de recuperação, até que as próprias mães, quando não tinham condições de criar os filhos, passaram a procurá-la pedindo ajuda.
As adoções de fato começaram após uma ida à Central do Brasil, no meio da noite. Flordelis encontrou uma mãe que havia tido bebê há apenas 15 dias e que confessou ter jogado a criança no lixo. Ela resgatou a menina e, dias depois, um grupo de crianças foi até sua casa, buscando a segurança e a estabilidade de um lar. As portas estavam abertas e foi assim que a família de Flordelis cresceu. Literalmente da noite para o dia.
Mas a iniciativa de ajudar os outros lhe trouxe problemas. Sem a documentação exigida pela Justiça para regularizar a situação das crianças, ela passou a ser perseguida e chegou a ter que deixar sua casa com os filhos, para não ser presa como sequestradora. “Foi difícil [fazer esse filme]. Tive que me lembrar de coisas que eu não queria mais lembrar, como a morte do meu filho, as fugas e a época em que moramos na rua. Mas hoje vejo que tudo valeu a pena”, ela comentou no início da sessão, antes de ter visto o filme pronto.
O elenco de “Flordelis” é um capítulo à parte: Reynaldo Gianecchini, Cauã Reymond, Alinne Moraes, Pedro Neschling, Erik Marmo, Letícia Sabatella, Fernanda Lima e Ana Furtado, entre outros. Cada um deles revive, em formato de depoimento, os dramas de alguns dos filhos de Flordelis, enquanto que ela própria, como que uma verdadeira “supermãe”, narra o drama de sua vida e se encarrega de deixar mensagens de otimismo e fé.
Nenhum dos atores recebeu cachê para fazer o longa, e o projeto foi criado com a intenção de que o lucro da bilheteria seja investido no que atualmente é o maior sonho da vida de Flordelis: sua casa própria. “Embora pareça loucura morar na favela e adotar esse monte de crianças, eu não fui atrás deles na rua. Eles vieram até mim, um a um, como presentes de Deus. E um presente como esse a gente não pode recusar”, afirma.
Antes de a sessão ter início, Flordelis chamou os filhos um a um no palco, pelos nomes. “Para chegar até aqui fui conhecida como doida. Mas quero dizer que ser doida é muito bom.” No fim, estava abalada e emocionada. “Mostramos a verdade, tudo o que nós passamos. Que sirva de exemplo para outras pessoas.”