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Um e-mail com reportagem do tabloide britânico “The Sun” circula na internet alertando os pais de crianças e adolescentes para um jogo que virou febre nas escolas do Reino Unido: o Snap. A “brincadeira” funciona da seguinte forma: uma menina coloca diversas pulseiras de silicone coloridas no braço e um jovem tenta arrebentar um dos adereços. Cada cor representa um “carinho”, que vai desde um abraço até sexo; quem arrebentar receberá a “prenda” da dona da pulseira.
As pulseiras já são moda por aqui. Baratas e fáceis de serem encontradas – um conjunto de 20 delas sai por, no máximo, R$ 2 –, elas não têm relação alguma com o jogo britânico, segundo usuários. “Pode acontecer isso fora daqui, mas no Brasil usamos só porque é legal”, disse a estudante Camila Perrenchelle, de 20 anos.
De fato, não há evidências de que algo semelhante tenha ocorrido nas escolas paulistas, segundo a Secretaria Estadual da Educação. Mesmo assim, educadores de instituições adiantaram-se à chegada da moda e começaram a tomar providências.
É o caso do colégio particular Marista Arquidiocesano de São Paulo. No fim do mês passado, a direção enviou comunicado aos pais dos alunos intitulado “Entretenimento? Consumo? Manipulação? Exploração de crianças e adolescentes?”. “Pedimos que, com discernimento e serenidade, […] conversem sobre o melhor posicionamento para seus filhos e filhas”, informa o texto.
Em entrevista ao G1, o diretor educacional do colégio, o professor Ascânio João Sedrez, afirmou que a discussão foi parar também na sala de aula e teve um lado positivo. “Foi interessante. Surgiram pautas muito boas entre alunos e professores e também foi uma boa desculpa para que os pais começassem uma conversa necessária.”
Mãe de duas meninas, Patrícia Paz, de 39 anos, aconselhou a caçula de 10 anos e a adolescente de 13 a deixarem de usar as pulseirinhas na escola onde estudam, no Centro de São Paulo. “Elas usam desde pequenas, mas por precaução vão deixá-las de lado até essa moda passar”, afirmou.
As meninas questionaram a mãe, mas, após uma conversa franca, concordaram em colocar os adereços somente fora do ambiente escolar.
Vendas
Quem não gostou dos alertas sobre o jogo Snap foram os ambulantes que vendem os adornos nas proximidades das escolas. O G1 visitou cinco barracas e em todas a situação é a mesma: desde que começou a circular o e-mail com a reportagem do “The Sun”, as vendas tiveram uma acentuada queda.
“Antes eu vendia de 150 a 200 conjuntos de pulseiras por dia, mas agora não vendo mais do que 20”, disse o ambulante José da Silva Fontes, de 36 anos, que trabalha perto de uma escola na Vila Mariana, Zona Sul da capital paulista.
O vendedor Jean Souza Santos, de 40 anos, também sentiu a diminuição na procura pelo adereço. “Há uns quatro meses, vinham mães com seus filhos comprar. Agora nem as crianças compram mais.”
Moda passageira
Para o educador Sedrez, o jogo Snap, se chegar ao Brasil, será rápido “como fogo de palha”. “A sensação é que há maleabilidade, franqueza aqui. O gingado que o brasileiro tem na questão dos relacionamentos é muito mais solto em comparação aos britânicos.”
Para ele, o jogo pode ser aceito em uma cultura rígida, mas não ganha força em um país em que a sexualidade é tratada com mais naturalidade. “O jogo não se enquadra na nossa cultura. É estranho ao nosso país”, concluiu.
Fonte: G1