Experiências de jovens na Grande Rede revelam o perigo dos relacionamentos virtuais.
Num certo dia de 2005, uma jovem mineira recebeu em um site de relacionamento o convite para “ser amiga” de um rapaz com o mesmo sobrenome. Tratava-se de um carioca que não pensou duas vezes para tomar a iniciativa ao ver a foto da moça. Depois de tentativas sem sucesso, enfim conseguiu falar com ela pelo MSN.
As conversas pela Net duraram dois meses. Em abril daquele ano, eles se conheceram pessoalmente, quando nasceu uma sólida amizade. Só quatro meses mais tarde começaram a namorar. Nos dias atuais, em que a cada ano cresce o número de jovens que buscam um relaciona¬mento amoroso pela Grande Rede, esse tipo de história é absolutamente normal.
Essa é a história do casal Felippe e Mariana Valadão. Hoje eles estão muito bem casados e com o filhinho recém-nascido chamado Tito. Graças à experiência que tiveram, eles falam sobre esse tema com propriedade entre os jovens cristãos, já que atualmente a facilidade de acesso à Internet tornou-se um fenômeno global principalmente para adolescentes e jovens.
De acordo com o levantamento de um site brasileiro de relacionamento, mais de 32% dos usuários ativos da Rede – aqueles que de fato utilizam o serviço – têm entre 18 e 24 anos. Pesquisa publicada na revista Exame com 10,5 mil alunos de 13 a 17 anos, de 75 escolas da rede particular de ensino de todo o país, mostrou que 60% dos entrevistados já usaram a Web como forma de conhecer pessoas, sendo que desses 38% já fizeram amigos que trouxeram para a vida real e 25% já se envolveram emocionalmente com pessoas conhecidas por meio da Rede.
Porta de entrada
Psicóloga e há mais de dez anos trabalhando com casais, inclusive como professora em curso de noivos na AD em Bonsucesso (RJ), Márcia Torres acredita que os sites de rela-cionamentos podem até ser uma porta de entrada para se iniciar um compromisso ou um namoro. “Nesse ponto, a tecnologia está a favor daqueles que não podem sair de suas igrejas, bairros ou cidades e muitas vezes querem conhecer outras pessoas”, destaca.
Realmente, a Internet é uma ferramenta para conhecer pessoas, porque esse primeiro contato, às vezes, é o mais difícil. Ela faz essa ponte, facilita você chegar até alguém, principalmente quem tem dificuldade na hora de abordagem. “Mas conhecer e continuar namorando é muito perigoso. Namoro virtual é loucura. Nada substitui a presença do outro”, defende Felippe Valadão.
Pode até parecer natural aos jovens da chamada geração Y procurar pelo par ideal na Rede. Mas psicólogos e líderes evangélicos não deixam de ver isso com preocupação.
Cuidados com a internet
Segundo Felippe, obter informações com tercei¬ros, como amigos em comum, sobre a pessoa com que pretende se relacionar é outro motivo que ele acredita ter sido fundamental para o relacionamento dele com a Mariana ter ido à frente. “Ela não era nada estranha para mim. Afinal, quem não conhe¬cia o grupo Diante do Trono? Já eu era totalmente desconhecido. Por isso, esperava que ela chegasse desconfiada. Mariana procurou saber sobre mim”, esclarece.
Logo nas conversas, Felippe perguntou o que ela achava de pessoas que se conhecem e namo¬ram pela Net. Ela disse que não concordava. “Eu afirmei o mesmo. Ainda fui enfático. ‘Como que isso pode dar certo?’”, lembra com a satisfação de ver que a sua história teve um final feliz.
Por isso mesmo, Felippe declara que não acon¬selha ninguém a namorar pela Internet. “Não é o meu conselho nem o da minha esposa. Ela mesma diz que não se casaria comigo se eu não tivesse me mudado para Belo Horizonte, porque não teria como me conhecer de verdade. Nosso caso deu certo, mas somos exceções. Não nos conhecemos já com intenção de namorar”.
O perigo dos fakes
O casal precisou ter esses cuidados. Na Internet, existe o risco de se deparar com um perfil fake. São pessoas que criam cadastro com informações falsas. É muito fácil você se passar por outro no mundo virtu¬al. Uma pesquisa publicada na revista Exame mostrou um fato curioso em relação a isso. Ao se aproximar de um desconhecido, 97% dos jovens dizem não confiar logo de cara em quem conhecem pela Rede, 44% admitem a possibilidade de marcar encontros reais, 32% seriam muito cuidadosos, 10% teriam algum tipo de cuidado, mas 2% não teriam maiores preocupações.
Apesar de a maioria dos internautas parecer bem esperta quanto aos cuidados com quem está do outro lado da telinha, sobram casos de pes¬soas que se decepcionaram ou até estiveram em perigo por se aventurar num namoro virtual. Por que será? A psicóloga Márcia Torres lembra que “é muito comum, ao falarmos de nós ou traçarmos nosso perfil, termos a atitude de só falar o melhor. Tenha, porém, cuidado quando o outro se enche de elogios e de muitas virtudes ou se coloca muito acima do ‘bem e do mal’. Essa pessoa poderá estar se escondendo”.
Nunca vá sozinho!
Márcia Torres faz um sério alerta principalmente para quem decidir conhecer alguém pela Internet. “Procure marcar seu primeiro encontro em grupo. Nunca vá só. Você poderá pensar: ‘mas que absurdo, estamos falando de cristãos’. Precisamos ser prudentes como recomenda a Palavra de Deus, pois nem todos que dizem ser cristãos realmente o são”.
Outro cuidado é saber quem são as pessoas que fazem parte da vida do tal internauta. Quando alguém conhece outra pessoa interessada em relacionar-se, é normal que ela fale de si mesma e da família demonstrando interesse em mostrar quem é. “Se isso não ocorrer depois de certo tempo de namoro, fique muito atento, pois toda pessoa, a menos que tenha passado por uma catástrofe, terá outras pes¬soas com quem se relaciona, sejam parentes ou amigos. O natural é haver interesse em apresentar você para a família”, salienta Márcia.
Isso é mais sério do que você possa imaginar. O pastor Felippe Valadão conhece de perto um caso desses. “Já vi dezenas de testemunhos de casais que se conheceram e namo¬raram pela Internet e foi uma furada: Uma moça cristã de Belo Horizonte, para citar um exemplo, casou-se com um rapaz de outro Estado que conheceu pela internet. E ela está passando por uma situação difícil. Depois do casamento, ele se mostrou outra pessoa. eles se casaram após seis meses de namoro”, conta.
“Namoro, por mais que tenha se iniciado virtualmente, tem que continu¬ar em casa, para a família conhecer. No olho no olho a gente consegue ver se a pessoa é aquilo mesmo”, enfatiza Felippe.
*Reportagem publicada na página 22 da revista GeraçãoJC, Ano XII, nº 82, CPAD.
Fonte: Revista Geração JC, CPAD.