O líder evangélico Ariovaldo Ramos, da Comunidade Cristã Reformada de São Paulo, conclamou a Igreja a reverter os estragos teológicos, pastorais e comunitários que a Teologia da Prosperidade provocou em seu meio. “Essa teologia não tem respaldo bíblico”, escreveu em seu blog.
“Deus foi transformado num gordo e avaro banqueiro que está pronto a repartir as suas benesses para quem pagar bem”, disse. “O antigo conto do vigário foi substituído pelo conto do pastor”, ironizou.
Em aplicação há mais de 30 anos no Brasil, a Teologia da Prosperidade ainda se mantém viva. Ariovaldo se pergunta como ela consegue atrair seguidores, para responder: “Em primeiro lugar, a vida longa se sustenta pela criatividade, os pregadores dessa mensagem estão sempre se reinventando, vivem de promover espetáculos às custas da boa fé do povo”, constata.
Seus arautos são muito criativos, verdadeiros “pop stars” animadores de auditórios. “É uma sucessão de invencionices: um dia é passar pela porta x, outro é tocar a trombeta y, ou empunhar a espada z, ou cobrir-se do manto x, e, por aí vai. Isso sem contar o sem número de amuletos ungidos, de águas fluidificadas e de bênçãos especiais”, analisa.
Outro fator para a vida longa experimentada pela Teologia da Prosperidade, segundo Ariovaldo, é a penitência. “Os pregadores dessa panacéia descobriram que o povo gosta de pagar pelos benefícios que recebe, algo como ‘não dever nada a ninguém’, fruto da cultura de penitência amplamente disseminada na igreja romana medieval”.
A Teologia da Prosperidade justifica o pior do capitalismo, que se sustenta no individualismo e no consumismo. Quem mais acumula é o “protótipo do ser humano de fé”. Na verdade, “a fé cristã, de modo geral, não se dá bem com a busca pela riqueza como objetivo em si”, aponta Ariovaldo.
Não é de estranhar, pois, que “ética seja um artigo em falta na vida e no ‘shopping center’ de fé desses ‘ministros'”, afirma o líder evangélico. Os pastores se enriquecem, melhoram sensivelmente o padrão de vida, adquirem patrimônio, viram artistas de TV, enquanto o povo espera que a negociata com Deus se concretize.
Ariovaldo sugere que a Igreja desenvolva uma pastoral para aquelas pessoas que ouviram falar de Cristo nas igrejas que propagam a Teologia da Prosperidade, mas nelas não o encontraram e não viram as promessas de vida próspera se concretizarem.
“Aqueles que pararam de procurar o Cristo talvez estejam perdidos para sempre. Mas há aqueles que continuam procurando. A esses a Igreja deve se voltar”, defende o pastor, sugerindo a introdução de “uma pastoral para a decepção”.
Fonte: ALC